Páginas

terça-feira, 15 de março de 2011

Petrópolis 168 anos: “Quem pensa que é feliz em outra terra é porque ainda não viveu aqui”

A história da cidade de Petrópolis, localizada 835 metros acima do nível do mar, com 70% de sua área encravada em uma das últimas reservas de Mata Atlântica do planeta, começa quando seu clima excelente e natureza exuberante ganharam mais um ilustre admirador: D. Pedro I. Percorrendo o chamado "Caminho do Ouro" em direção à Minas Gerais, no ano da proclamação da Independência - 1822 - aquele que seria o primeiro Imperador do Brasil ficou encantado com a região, após hospedar-se na fazenda do Padre Corrêa, atual Distrito de Cascatinha. Durante os anos seguintes, D. Pedro continuou como hóspede freqüente da fazenda, trazendo a família e, mais tarde, se propondo a comprá-la. Contudo, D. Arcângela Joaquina, irmã e herdeira do Padre Corrêa, acabou sugerindo ao Imperador a compra da fazenda vizinha: Córrego Seco, onde hoje se encontra o Centro Histórico da cidade de Petrópolis, um dos mais significativos conjuntos arquitetônicos referentes ao século XIX de todo o mundo - um rico patrimônio histórico que atrai, hoje, mais de 300.000 turistas/ano, nacionais e internacionais.

Porém, muitas águas rolaram sob as pontes dos rios Quitandinha, Palatino e Piabanha, que cortam a cidade, antes que esta viesse, de fato, a se tornar uma realidade. Apesar de ter sido adquirida em 1830 para abrigar um grande palácio, a fazenda passou 12 anos praticamente abandonada, envolvida nas discórdias políticas que se seguiram à abdicação de D. Pedro I, em 1831. Somente em 1843, D. Pedro II começa a dar forma ao projeto "Povoação-Palácio de Petrópolis", de forma mais efetiva, graças à orientação de dois ilustres patronos: o mordomo da Casa Imperial e administrador dos bens de Sua Majestade, Paulo Barbosa e o major alemão Júlio Frederico Koeler, já há alguns anos servindo na engenharia das Forças Armadas.

As dificuldades da empreitada não eram poucas. A área onde hoje se encontra o Centro Histórico era pouco mais que um charco, cujo clima úmido e frio assustava os brasileiros. A distância era considerada impeditiva, já que vir até Petrópolis era uma viagem que incluía a travessia da Baía de Guanabara por barco e depois, uma áspera subida de 14 léguas em lombo de cavalos ou carruagem em declive acentuado. Koeler, porém, guardava um trunfo especial: a sua crença na superioridade do trabalho livre sobre o escravo, comprovada anos antes quando, com a anuência do Imperador, contratou 238 trabalhadores alemães para a construção da Estrada Normal da Serra da Estrela: o primeiro caminho que veio a substituir as trilhas abertas pelos bandeirantes e outros aventureiros, durante os dois séculos anteriores. Os primeiros alemães, na verdade, permaneceram no Brasil por acaso: após embarcarem no Velho Mundo com destino à Sidney, Austrália, acabaram se amotinando por conta dos maus-tratos sofridos no navio francês Justine e, a partir do Rio de Janeiro, não quiseram mais seguir viagem. Permaneceram na região de "Serra Acima" e adaptaram-se muito bem.

Partindo deste dado, Koeler uniu-se à Paulo Barbosa, para convencer o Imperador a fundar uma colônia agrícola na fazenda do Córrego Seco. Entusiasmado, o Imperador assinou, em 16 de março de 1843, o decreto que criou Petrópolis - primeira cidade planejada do Brasil.

É neste ponto que surge um fator importantíssimo para a fisionomia que a cidade iria adquirir ao longo do tempo: os novos colonos alemães. O que gerou um fato interessante. Um intermediário foi contratado em Dunkerque para enviar, por acordo firmado com o Governo Brasileiro, 600 casais de agricultores para Petrópolis: a firma Delrue & Cia. Porém, valendo-se de uma artifício desonesto, a empresa aproveitou-se da grande crise econômica reinante na Alemanha naquela ocasião, para trocar a palavra "casais" por "famílias" e enviar para o porto do Rio de Janeiro, em levas quinzenais totalmente desorganizadas, um grupo imenso de pessoas ligadas por laços distantes - tios, primos, cunhados, sogros, etc. - com qualificações profissionais inteiramente diversas das estabelecidas. Até a suspensão do contrato com Delrue, os alemães já somavam mais de 2.000 pessoas, que o Imperador D. Pedro II recebeu com tão notória generosidade, que a colônia não deixou de homenageá-lo nem mesmo após a Proclamação da República, chamando-o sempre, carinhosamente, de "Unser Kaiser" (Nosso Imperador).

Petrópolis acabou tendo um destino diferente do imaginado por Koeler. Não se tornou uma povoação agrícola, mas sim uma cidade que não parou mais de progredir, mostrando uma clara vocação para a beleza, a cultura, a arte e a introspecção que facilita o estudo, a pesquisa e a meditação. Durante todo o Império e também na República, foi a preferida de inúmeros nobres e intelectuais, para descanso e lazer. D. Pedro II - e, em conseqüência, toda a sua corte - passava na cidade seis meses por ano, de novembro a maio: neste período, Petrópolis era, de fato, a capital administrativa do Império. Soberano afeito às artes e à ciência, D. Pedro II inaugurou a tradição que estabeleceu, em Petrópolis, uma concentração incomum de pessoas ilustres, reconhecidas ao longo destes 168 anos: França Júnior, Afonso Arinos, Raimundo Correia, Rui Barbosa, Santos Dumont, Stephan Zweig, Gabriela Mistral, Alceu Amoroso Lima, Sylvia Orthof, e muitos outros.

Na República, a cidade manteve este "status", já que o Palácio Rio Negro, residência oficial de verão dos Presidentes da República, hoje a primeira "guest-house" oficial aberta à visitação do país, continuou a receber todos os presidentes, de 1904 a 1960 - tradição retomada em 1997, pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.

Mas o crescimento começara bem antes. Já em 1854, por iniciativa do maior empresário do século passado, Irineu Evangelista de Souza, o Barão e Visconde de Mauá, a cidade recebe novo impulso, com a construção da primeira estrada de ferro brasileira, que ligava o Porto de Mauá à Raiz da Serra. Nesta fase, o pioneirismo e espírito vanguardista da cidade se solidificaram. Em 1861, a primeira estrada de rodagem do país, a União e Indústria, foi inaugurada ligando Petrópolis à Juiz de Fora. Em 1883, a Estrada de Ferro Príncipe do Grão-Pará, mais tarde Leopoldina Railway, fez com que o primeiro trem subisse a serra. Em 1897, Petrópolis assistiu, no Teatro Cassino Fluminense, à primeira exibição pública de filme produzido em território nacional: uma película de menos de um minuto de duração, que retratava justamente a chegada do trem à estação de Petrópolis. De 1894 a 1903 - ano em que a cidade assistiu a assinatura do Tratado de Petrópolis, que anexava o Acre ao território nacional - Petrópolis tornou-se a capital do Estado do Rio de Janeiro. E, no ano seguinte, o Palácio Rio Negro foi adquirido para ser residência oficial de verão dos presidentes da República. A conseqüência direta desta íntima relação com o poder foi a inauguração, em 1928, da Rodovia Washinton Luís, a primeira do país a ser asfaltada, ligando Petrópolis ao Rio. E a permanência de Petrópolis no cenário decisório do país até o início do governo militar, em 1964.

Paralelamente, outros pólos da cidade se desenvolviam. Nos anos 40, Petrópolis destacava-se no cenário têxtil e também no turismo. Um marco desta época é a inauguração do Hotel e Cassino Quitandinha, em 1944, que atraiu para a cidade artistas e personalidades do jet set internacional, como Errol Flynn, Orson Wells e Carmen Miranda.

No final dos anos 90, Petrópolis se prepara para o século XXI disposta a guardar o melhor de suas tradições e a entrar, decisivamente, na era tecnológica. O Laboratório Nacional de Computação Científica - LNCC, coloca a cidade em posição de destaque no desenvolvimento de setores que dependem de alta tecnologia e pesquisa para sua produção. Petrópolis abrigará então, o SP-2, que é o computador mais avançado da América Latina. E o projeto de resgate do Centro Histórico, que teve como prévia a restauração e abertura ao público do Palácio Rio Negro, do Palácio de Cristal de Petrópolis, único nas Américas, além da revitalização da Rua do Imperador, bem como o amplo desenvolvimento do centro gastronômico e de lazer da região de Itaipava e adjacências, está estimulando o crescimento turístico nos seus segmentos ecológico, de compras e de convenções, devolvendo à cidade todo o charme que seduziu D. Pedro I, há mais de 168 anos.


Um pouco da nossa história (3)


D. Pedro I e a Fazenda do Padre Correia

Terminadas as guerras na Europa, D. João VI voltou para Portugal em 1821 e deixou aqui seu filho, D.Pedro, que acabou por declarar o Brasil independente e tornou-se nosso primeiro imperador em 1822.

D. Pedro I passou por várias vezes pelo Caminho do Ouro em direção às Minas Gerais em busca de apoio para as suas aspirações políticas. Costumava hospedar-se na fazenda do Padre Correia, que acabou sendo a origem do bairro Corrêas. A casa principal, na confluência dos rios Morto (Rio do Bonfim) e Piabanha, ainda existe, assim como a capela de Nossa Senhora do Amor Divino.

Na fazenda dos Correias, os filhos do Imperador brincavam à vontade como qualquer criança. Tomavam banho de rio e nas piscinas naturais entre as pedras das cascatas. Faziam pescarias, comiam frutas dos pomares e faziam passeios pelos recantos mais bonitos. A segunda esposa de D. Pedro I, D. Amélia, era encantada com o lugar e deve ter influenciado o marido para adquirir a Fazenda do Padre Correia. O padre já tinha morrido, mas sua irmã e herdeira, D. Arcângela, não quis se desfazer da propriedade. Então, D. Pedro I comprou as terras da fazenda vizinha, a fazenda do Córrego Seco, que era em tudo diferente da que queria comprar.

Os ranchos da Fazenda do Córrego Seco, não eram dos melhores. Sem dúvida, a melhor parada era a fazenda do Padre Correia. Geralmente escolhida para pernoite, oferecia vários ranchos ou telheiros para abrigo dos tropeiros e animais, suprimentos, frutas de pomares próprios até ferraduras fabricadas no local.

D. Pedro I hospedou-se na fazenda do Padre Correia pela primeira vez ainda quando era regente e gostou tanto do local e do clima que voltou depois muitas vezes com a família para temporadas e repouso. Uma de suas filhas, D. Paula, sofria de uma doença crônica do fígado e os médicos recomendavam que se afastasse do calor, os habitantes da cidade ficavam expostos a uma porção de doenças transmitidas como tifo, febre amarela e outras.

Como podemos ver, a história de Petrópolis começou aqui, em Corrêas. Devido à negativa do Padre Correia e posteriormente de sua irmã, D. Arcângela, em não vender a fazenda que hoje abriga o Colégio Padre Corrêa para D. Pedro I, Corrêas não se tornou o Centro de Petrópolis. De qualquer sorte, podemos desfrutar no nosso bairro de um excelente clima, da proximidade tanto com o Centro de Petrópolis e o 3º distrito Itaipava, além do povo acolhedor e amigo.